Cleides Foiato

Elizandra De Re

Fernanda M. Arcari

Marisol Vieira Melo

Regina Fátima Lunelli

Girardi Schuck

A elaboração da área de Matemática pautou-se em discussões coletivas entre os profissionais que ensinam a disciplina, envolvendo, portanto, os pedagogos e os especialistas da área, tornando-se esse diálogo fundamental. Favorável a isso é o processo formativo da aprendizagem matemática na Educação Básica, bem como uma articulação efetiva que proporciona a interdisciplinaridade. Assim sendo, o grupo teve como documentos norteadores: a BNCC e o Currículo Base do Território Catarinense (SANTA CATARINA, 2019); considerando, sobretudo, os marcos legais, a concepção educacional e as fontes pedagógicas da realidade que embasam o referido Documento Curricular da AMOSC.

Nessa perspectiva, é importante compreender a Matemática como um campo de conhecimento, mas, sobretudo, como uma prática social que vem sendo desenvolvida e historicamente construída, de acordo com a necessidade humana (SKOVSMOSE, 2007). Ou seja, a própria história da matemática não é estanque, pois há inter-relações, o que favorece compreender o processo do concreto para o abstrato. Assim sendo, a Matemática, relacionada com as diversas áreas do conhecimento, tem um papel fundamental para a formação de cidadãos críticos perante a sociedade, desenvolvendo a capacidade de argumentação, resolvendo problemas, estimulando o raciocínio e a investigação, além de representar e analisar situações, aplicando conceitos matemáticos em diferentes contextos.

Partindo dessa concepção de que a matemática é uma prática social e se dá por meio de interações sociais, promovendo a produção de sentidos dos saberes e conhecimentos matemáticos, ela auxilia no estabelecimento e nas relações entre objetos, conceitos e fatos, favorecendo as habilidades de previsão, explicação, antecipação e interpretação de situações reais para interferir na realidade. Essas relações são alicerçadas desde os primeiros anos de escolarização e é por isso que a Matemática pode ser trabalhada/ensinada usando diferentes metodologias, como a Modelagem Matemática, História da Matemática, Etnomatemática, diferentes materiais manipulativos e jogos, além do uso da tecnologia aliada a aprendizagem e o desenvolvimento do raciocínio lógico e do pensamento computacional. Essas metodologias propiciam um maior envolvimento dos alunos no seu processo de aprendizagem, modelando problemas, fazendo conjecturas e analisando resultados.

A valorização dessas metodologias vem ao encontro da proposta da BNCC que mostra que “os processos matemáticos de resolução de problemas, de investigação, de desenvolvimento de projetos e da modelagem podem ser citados como formas privilegiadas da atividade matemática, motivo pelo qual são, ao mesmo tempo, objeto e estratégia para a aprendizagem ao longo de todo o Ensino Fundamental” (BRASIL, 2017, p. 264). Além disso, esse documento enfatiza que esses processos de aprendizagem são “potencialmente ricos para o desenvolvimento de competências fundamentais para o letramento matemático (raciocínio, representação, comunicação e argumentação) e para o desenvolvimento do pensamento computacional” (id. ibid.). Nesse sentido, busca-se transformar a sala de aula em um ambiente de aprendizagem, onde o aluno se motive para criar modos diferentes para “fazer” matemática, em que haja o desafio de aprender, respeitando o nível de cada aluno, almejando o sucesso de todos.

Para tanto, é importante considerar que a educação escolar é a base da formação do educando na sua totalidade, partindo do conhecimento empírico para o científico, nos diferentes campos que compõem a Matemática. Perpassa-se pelas diferentes áreas do conhecimento, transversalmente nas cinco Unidades Temáticas (U.T.) contempladas em todos os anos do Ensino Fundamental, a saber: Números; Álgebra; Geometria; Grandezas e Medidas; Probabilidade e Estatística. E estas U.T. estão alinhadas com as dez competências gerais propostas na BNCC, destacando-se aqui oito delas (BRASIL, 2017, p. 265):

1.Reconhecer que a Matemática é uma ciência humana, fruto das necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, e é uma ciência viva, que contribui para solucionar problemas científicos e tecnológicos e para alicerçar descobertas e construções, inclusive com impactos no mundo do trabalho.

2.Desenvolver o raciocínio lógico, o espírito de investigação e a capacidade de produzir argumentos convincentes, recorrendo aos conhecimentos matemáticos para compreender e atuar no mundo.

3.Compreender as relações entre conceitos e procedimentos dos diferentes campos da Matemática (Aritmética, Álgebra, Geometria, Estatística e Probabilidade) e de outras áreas do conhecimento, sentindo segurança quanto à própria capacidade de construir e aplicar conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a autoestima e a perseverança na busca de soluções.

4.Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos presentes nas práticas sociais e culturais, de modo a investigar, organizar, representar e comunicar informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las crítica e eticamente, produzindo argumentos convincentes.

5.Utilizar processos e ferramentas matemáticas, inclusive tecnologias digitais disponíveis, para modelar e resolver problemas cotidianos, sociais e de outras áreas de conhecimento, validando estratégias e resultados.

6.Enfrentar situações-problema em múltiplos contextos, incluindo-se situações imaginadas, não diretamente relacionadas com o aspecto prático-utilitário, expressar suas respostas e sintetizar conclusões, utilizando diferentes registros e linguagens (gráficos, tabelas, esquemas, além de texto escrito na língua materna e outras linguagens para descrever algoritmos, como fluxogramas e dados).

7.Desenvolver e/ou discutir projetos que abordem, sobretudo, questões de urgência social, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários, valorizando a diversidade de opiniões de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza.

8.Interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletivamente no planejamento e desenvolvimento de pesquisas para responder a questionamentos e na busca de soluções para problemas, de modo a identificar aspectos consensuais ou não na discussão de uma determinada questão, respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo com eles.

Contudo, neste documento, articulando as habilidades na construção de conhecimentos, no seu desenvolvimento, raciocínio lógico e crítico, na formação de atitudes e valores, a matemática exerce o papel de instigar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade. Logo, reflete sobre acessar e disseminar informações, elaborar e testar hipóteses, produzir conhecimentos, resolver problemas, criar soluções, inclusive tecnológicas nas mais variadas práticas diversificadas, avaliar e ser avaliada nos diferentes contextos da vida pessoal e coletiva de cada um.

E em sintonia com a BNCC e a adoção das U.T., ressalta-se o sentido de identificar a presença dos temas/campos, seja numa relação horizontal - enquanto exploração das competências e objetos de conhecimento da temática própria; ou ainda, numa relação verticalizada - enquanto movimento de avanço e articulação entre as temáticas, cuja estrutura lógica constitui a própria Matemática.

Se, por um lado, essa estrutura manifesta a abrangência dos conhecimentos, de outro, trata da especificidade dos mesmos, possibilitando, então, uma inter-relação entre os mesmos. A ideia é o leitor perceber que há um avanço conceitual e das competências a cada ano escolar, considerando o percurso formativo dos alunos.

Embora haja a estrutura matricial de como o quadro está proposto, o mesmo não é estanque, tampouco fechado, pois se entende que os seus objetivos, os critérios de avaliação, a metodologia e o planejamento estão imbricados e que o aprofundamento dos mesmos se dará em um processo contínuo de discussões e do desenvolvimento de formações continuadas nos municípios. Nessa perspectiva, os conhecimentos são ampliados a cada ano, o que traduz a associação de saberes adquiridos anteriormente, com vistas à aprendizagem. Esse processo de avanço requer um aprofundamento de conhecimentos, podendo, os mesmos, serem explorados e consolidados mediante as experiências metodológicas a partir de formações continuadas, decorrentes, inclusive, desse processo que ora se vivencia.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/UNDIME, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf. Acesso em: 10 jul.2019.

SANTA CATARINA. Currículo base da Educação Infantil e do Ensino Fundamental do território catarinense. 2019.

Disponível em: http://www.cee.sc.gov.br/index.php/downloads/documentos-diversos/curriculo-base-do- territorio-catarinense/1620-curriculo-base-ed-infantil-e-ens-fundamental-de-sc/file. Acesso em: 20nov. 2019 SKOVSMOSE, Ole. Educação Crítica: Incerteza, Matemática, Responsabilidade. São Paulo: Cortez Editora, 2007.